Na história do Pêssach, Moisés continuamente foi ao Faraó, implorando-lhe “Deixe meu povo ir!” Mas o Faraó recusou... até que seu filho tornou-se vítima de seu próprio decreto negativo contra os israelitas. Somente então, naquele estado de grande angústia, o Faraó deixou de lado seu ego e concordou em conceder liberdade àqueles que haviam sido escravizados por gerações.
Quando essa história é compartilhada nos Sêders ao redor do mundo, sempre é contada na segunda pessoa. O êxodo do Egito não aconteceu com “eles”; mas aconteceu com VOCÊ. Aconteceu comigo. Aquelas correntes, os poços de lama e as pedras pesadas eram fardos que todos nós compartilhávamos... e, de uma perspectiva kabalística, ainda podem nos puxar para baixo, até hoje.
Mas as algemas que usamos agora, provavelmente, não são feitas de metal e correntes. Elas são do tipo invisível que nós mesmos nos colocamos – e, frequentemente, em nome do “Ego”.
O ego é furtivo. O ego é mutável, às vezes emerge como ciúme, fofoca, animosidade ou julgamento. Em outros momentos, pode se manifestar como defensividade, egoísmo ou orgulho. Mas ele não precisa nos prender para sempre. Como meu marido, Michael Berg, diz sobre o poder de Pêssach, “Podemos e devemos sair deste dia como pessoas completamente diferentes.” Temos o poder de nos transformar, e tudo começa com uma compreensão clara do que nos manteve presos por tanto tempo.
Ryan Holiday, autor de “Ego é seu Inimigo”, explica que o ego difere de uma impressão positiva de si. A versão saudável é a confiança. A noção inflada de si, que tende à indulgência e abomina qualquer coisa que a desafie, não é tão saudável. Holiday diz: “O ego é roubado. A confiança é conquistada. O ego é auto-outorgado; a sua arrogância é um artifício.”
Em outras palavras, quando guiados pelo ego, perdemos nossa autenticidade. Perdemos contato com quem somos e com o lugar em que nos encaixamos na figura completa. Enfraquecemos nosso próprio desenvolvimento, pois o ego nos diz que já chegamos lá. Afinal, se alguém acredita que sabe de tudo, por que deveria continuar aprendendo? Simplesmente interrompeu-se o processo de crescimento com um todo.
Ao entrarmos nesta janela cósmica sagrada, recebemos o chamado a explorar e a expor esses locais em que o ego se estabeleceu dentro de nós. Existem áreas em sua vida em que você tende à teimosia e indisposição em se comprometer? Você já tratou outras pessoas com menos respeito do que merecem - independentemente de sua posição social, status profissional, aparência ou situação? Agora é a hora de sair da negação, é um momento oportuno para fazer uma mudança consciente na maneira como nos vemos e como vemos o mundo.
Em Pêssach, deixamos de lado alimentos fermentados, como o pão e, em seu lugar, comemos alimentos não fermentados, como a matzá. Da mesma forma, somos encorajados(as) a desinflar nosso senso de grandiosidade e perceber que nenhum de nós é o centro do mundo, muito menos do universo. A condição humana (e a ilusão da separação em geral) nos enganam a pensar de outra forma. Porque estamos presos(as) em nosso próprio interior o dia todo, todos os dias, a crença de que eu sou o centro do universo faz todo sentido. No entanto, há quase 8 BILHÕES de outras pessoas no mundo que também se sentem como o eixo central de toda experiência. Isso cria muitos reis e rainhas do mundo, não é?
E, se olharmos um pouco para fora, perceberemos que cada criatura neste planeta também tem uma visão semelhante de autoimportância. Até uma formiga acredita (conscientemente ou não) que é a criatura mais importante do planeta. Como observou Carl Sagan, nós somos essencialmente seres microscópicos vivendo em uma pequena “partícula de poeira suspensa em um raio de sol.” Porém, nem tudo é sombrio. Neil deGrasse Tyson escreveu: “Quando eu olho para o universo, sei que sou pequeno, mas também sou grande. Sou grande porque estou conectado ao universo e o universo está conectado a mim.”
Tanto a Kabbalah quanto a ciência concordam: estamos todos conectado.
A abertura cósmica de Pêssach traz um influxo de Luz supernal tão poderoso, com a capacidade de purificar toda a negatividade para quem tem a disposição de se livrar dela. Na história bíblica, os recém-libertos israelitas estavam sendo perseguidos para serem recapturados pelo exército furioso do Faraó. Quando chegaram ao Mar Vermelho, sabiam que estavam encurralados. Então pediram ao Criador que os ajudasse. Mas a Kabbalah ensina que não foi uma intervenção divina que abriu o mar para eles. Em vez disso, foi a crença coletiva de que isso poderia acontecer que quebrou todo o ego e tornou os milagres possíveis. O desejo compartilhado de prevalecer como um povo tornou-se um canal para a Luz brilhar no que era necessário naquele momento. Naquele momento, não havia “eu” – havia apenas “nós”.
Então, neste Pêssach, minha esperança é que todos enfrentemos os locais em que e como nossas próprias correntes nos seguraram... e, a partir daí, finalmente digamos: “Deixe meu ego ir!”
Sem o manto do ego obscurecendo nossa visão, podemos desbloquear nosso maior potencial. Quando mudamos o desejo de receber somente para si mesmo para trazer luz às outras pessoas, abrimo-nos para o influxo dessa Luz grandiosa. Aprendemos mais... conectamo-nos mais... criamos mais. Crescemos mais.
Lembre-se: VOCÊ é vasto e eterno. Ao mesmo tempo, você é um personagem único, com um propósito especial que só você pode trazer para esta experiência compartilhada da vida! Esqueça o que os outros pensam; os padrões externos nem sempre convidam à originalidade. Porque, quando você pensa e age a partir da sua própria verdade nua e crua acima de tudo, as águas diante de você vão se abrir... e você encontrará um novo tipo de liberdade.