Ao observarmos o brilhante Professor Stephen Hawking nos últimos anos de sua vida, vemos apenas um homem pequeno e encolhido, num estado de profunda debilidade. No entanto, através da tecnologia que possibilitava traduzir em linguagem a contração de um músculo da bochecha ou o piscar de um olho, Hawking continuou a palestrar, pesquisar, escrever e “falar” como um dos maiores pensadores da física e cosmologia – até o momento em que perdeu a batalha para a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Para ele, o corpo frágil e paralisado era apenas uma máscara, que escondia um gênio grande o suficiente para contemplar todo o universo e deixar contribuições que ainda serão estudadas por muitas gerações.
À medida que nos aproximamos do feriado de Purim (também conhecido como o “Festival das Máscaras”), tenho pensado sobre as “máscaras” que usamos. Nossas máscaras escondem nosso verdadeiro eu? Ou elas eventualmente podem também nos ajudar a revelá-lo?
A resposta é sim, e sim.
Para muitos de nós, a máscara mais persistente contra a qual lutamos é a do Ego. Por exemplo, consideremos o velho ditado “keep up with the jonesses” (a ideia de se comparar com os outros para não ficar para trás), que existe há tanto tempo quanto nós e, ainda que os tempos tenham mudado, a ideia permanece: “O meu reino é melhor (maior, mais abundante, bonito ou avançado) que o seu”. As máscaras podem se apresentar de diversas formas: a carreira, família ou mesmo uma casa pode se tornar a máscara atrás da qual nos escondemos. Olá, Ego. Isso não quer dizer que as coisas boas ou arduamente conquistadas sejam erradas ou ruins...contanto que nos lembremos que o fato de termos ou não essas coisas não representará a medida completa de quem somos.
Eu me lembro quando, durante uma reunião de família há alguns anos, um de nossos amigos perguntou ao Josh (nosso filho caçula que nasceu com Síndrome de Down) se ele tinha uma “mensagem” para transmitir. Assim como nós, nosso amigo sabe que o coração e o espírito puro e descomplicado do Josh o tornam capaz de sentir e ver além de todas as máscaras – um de seus muitos lindos atributos.
Josh olhou para ele e simplesmente disse: “Você precisa se tornar menor para que as pessoas possam abraçá-lo”.
Embora nosso amigo seja, de fato, alto, Josh não estava se referindo a sua estatura física – ele estava falando com seu Ego. Nosso amigo tem um Ego saudável e um coração de ouro mas, eventualmente, todos nós precisamos ser lembrados dessa sabedoria! Como diz o Zohar: “Aquele que é pequeno, é grande”. Isso não significa que precisamos nos encolher (embora alguns filmes tenham tornado essa perspectiva bastante divertida!), mas que devemos transcender nosso Ego, sermos humildes, gentis, e lembrarmos de nossa humanidade – ou, nesse caso, de nosso “abraço”.
E como sabemos quando o chamado para fazermos algo vem de nossa alma, e não do nosso Ego? A Kabbalah nos ensina que se estiver conectado com o desejo de nossa alma, haverá igualmente embutido o desejo de querer o bem de outras pessoas. Se algo for somente bom para “mim”, então o desejo estará conectado com o Ego.
Mas usamos outras máscaras também: podemos responder “estou bem”, quando estamos com raiva; permanecer em silêncio ao invés de falar o que verdadeiramente pensamos; esconder nossas emoções através do humor ou da indiferença. Às vezes, usamos as mídias sociais como uma máscara pública, editando nossas vidas para que apenas nosso brilho seja mostrado, e nenhuma de nossas imperfeições. Até nossas expressões faciais são máscaras, quer percebamos ou não.
De acordo com Jonathan Freeman, Professor de Psicologia da Universidade de Columbia e Diretor do Laboratório de Ciências Cognitivas e Neurais, “as pessoas formam impressões sobre a personalidade de outras a partir de suas expressões faciais em apenas centenas de milissegundos”. Embora estudos demonstrem que as primeiras impressões são bastante consistentes entre os observadores, elas geralmente são imprecisas. Em outras palavras, as “máscaras” que usamos diariamente não contam a história completa sobre quem somos, apesar da sociedade pensar ao contrário. É por isso que cabe a nós fazermos a revelação!
Algumas máscaras podem realmente nos ajudar tanto a conectar como a revelar nossa Luz. Por exemplo, aquela casa ampla e cara pode se tornar um ponto de encontro cheio de amor e risadas, trazendo alegria a todos aqueles que nela entrarem. A foto de família compartilhada nas redes sociais pode nos ajudar a permanecer conectados com amigos queridos que não podemos encontrar pessoalmente.
Assim, encontramos uma outra dualidade nesse mês do peixe espelhado (Peixes). Nós nos escondemos, e nos revelamos. Buscamos a proteção, e a conexão. Ao reconhecermos as máscaras que usamos (conscientemente ou não) e escolhê-las com sabedoria, nos mostramos com autenticidade para nós mesmos, e para nossos relacionamentos. Essa autenticidade é a base para a honestidade e profundidade que desejamos em nossas conexões com outras pessoas.
Eventualmente, todas as nossas máscaras mundanas cairão e tudo será revelado. Mas até que isso aconteça, podemos nos beneficiar ao notar as máscaras que tanto nós, quanto os demais, estão usando; e podemos decidir quais estão servindo para o nosso bem, e quais estão nos impedindo de mostrar nosso brilho para o mundo.
Talvez nunca sejamos capazes de nos revelarmos completamente nessa forma humana. No entanto, a cada máscara que removemos (ou escolhemos) conscientemente, damos um passo em direção ao espelho onde, se tivermos sorte, nos encontraremos em plenitude.