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Transformando Julgamento em Luz

Michael Berg
Setembro 18, 2023
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O Shabat da porção Ha’azinu geralmente cai durante os dez dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur – e é chamado de Shabat Shuva, o Shabat de Retorno. Mas antes de discutirmos o significado espiritual dessa porção, acho importante ter clareza sobre o processo pelo qual nossa alma está passando durante estes dez dias.

"Acho importante ter clareza sobre o processo pelo qual nossa alma está passando durante estes dez dias".

Rav Isaac Luria, o Ari, explica que todo o segredo de Rosh Hashaná está na história de Adão e Eva, no Livro do Gênesis. Adão e Eva nascem costas com costas, e Deus coloca Adão para dormir, em um estado conhecido como dormita, para que Ele possa literalmente cortar e separar um do outro. Portanto, o conceito de dormita é quando Zeir Anpin, o Homem Superno que é representado por nós, é colocado em um estado de sono espiritual e, então, os dinim, julgamentos, são cortados e dados a Malchut, a Fêmea Supernal. Dar os julgamentos a Malchut é interessante, porque, geralmente, quando pensamos na palavra julgamento, ela tem uma conotação negativa, mas nesse caso, durante o processo que ocorre, os julgamentos estão sendo colocados em Malchut, o lugar de onde nós recebemos Luz.

Portanto, há duas etapas nesse processo, e termos compreensão dessas etapas é importante. Primeiro, há um corte das klipot – as partes completamente escuras de nós, os dinim – e este é um processo pelo qual passamos durante o Rosh Hashaná.  as o segundo passo é que também temos que ser capazes de transformar um pouco dessa escuridão, que está na forma de julgamento, em Luz. Como tal, um dos grandes propósitos do Shabat Shuva não é apenas cortar o julgamento, mas também ser capaz de transformar este julgamento em Luz.

O Zohar afirma que Rosh Hashaná é o momento em que o Criador se senta no Trono do Julgamento. Portanto, começando em Rosh Hashaná e continuando através dos dez dias até, e incluindo, Yom Kipur, temos a oportunidade e a capacidade de transformar nosso próprio julgamento ativado em Luz.  Então, há o corte e, a seguir, a transformação: são esses dois aspectos nos quais queremos nos concentrar.

O Ari explica esse processo da seguinte forma: depois de renascermos participando do processo espiritual de Rosh Hashaná, e por meio do trabalho que fazemos durante este Shabat Shuva e nos dias anteriores ao Yom Kipur, cortamos as klipot, as partes mais baixas de que queremos nos livrar. Quando as klipot são cortadas, elas não podem mais se apegar ao julgamento, à parte que usamos erroneamente ao longo do ano e queremos transformar em luz. Klipot não podem mais danificar o julgamento ou as partes que podem ser transformadas. E, então, o processo de cortar os julgamentos de Zeir Anpin Superno e transferi-los para Malchut começa. Todos esses julgamentos, que são energias que não foram necessariamente manifestadas em forma de Luz por nós no passado, são dados a Malchut.

No Shabat Shuva, lemos Devarim 32:2. Está escrito: Ya’arof kamatar likchi, "Minha doutrina cairá como a chuva". Muitos comentaristas têm dificuldades em compreender a que se refere esse versículo. A palavra ya’arof traduzida literalmente significa "cortar"; ya’arof kamatar likchi, portanto, significaria que a Luz e a sabedoria que recebemos devem ser cortadas. Mas agora entendemos que parte do nosso processo no Shabat Shuva é, por um lado, olhar para as partes do nosso ser que queremos cortar e deixar para trás. Temos que apreciar esse processo, porque há muita negatividade que estava conectada a nós até Rosh Hashaná, e uma vez que fazemos nossas conexões neste dia, não temos mais que nos apegar a ela. Não temos que voltar a nenhuma de nossas negatividades ou traços negativos.

"Nosso processo no Shabat Shuva é… olhar para as partes do nosso ser que queremos cortar e deixar para trás".

Em Rosh Hashaná, nós nos desconectamos de nossa negatividade e traços negativos e, por meio do Shabat Shuva, temos o poder de ya'arof kamatar likchi. A Luz que recebemos em Rosh Hashaná tem o poder de cortar todas aquelas partes de nós às quais não queremos voltar. Isso é importante por muitas razões, e a menos importante delas é que os kabalistas ensinam que toda ação negativa que fazemos cria um anjo negativo, e o Zohar diz que todo anjo negativo que criamos permanece conosco em nossa vida: cada vez que há caos, cada vez que há dor, cada vez que há falta, é porque aqueles anjos negativos que criamos estão lá para causar danos.

Mas em Rosh Hashaná nos desconectamos desses anjos negativos, porque nos elevamos a um lugar mais alto. Isso significa que matamos esses anjos? Não, é simplesmente que o que realizamos em Rosh Hashaná, em essência, foi que os anjos negativos que criamos não estão mais em nosso reino e não podem mais nos tocar, nos causar danos ou trazer o caos para nossas vidas... providenciando que nós não voltemos para eles. É muito importante que entendamos isso. Esses anjos negativos ainda estão aqui, mas eles existem em um reino inferior, em um lugar onde estávamos antes de Rosh Hashaná, e se voltarmos lá, para nossa negatividade anterior, eles voltarão e se juntarão a nós novamente. Como tal, o presente de ya’arof kamatar likchi significa que, com a Luz que recebemos em Rosh Hashanah, iremos cortar todos os anjos negativos que criamos, desde que não voltemos a eles. Se voltarmos aos comportamentos que tínhamos antes de Rosh Hashaná, não é apenas que não nos elevaremos, mas sim que nos encontraremos novamente cercados por todas aquelas forças que queríamos deixar para trás.

Então, em Rosh Hashanah, fazemos duas coisas: cortamos nossa conexão com as forças negativas e com os anjos que criamos, porque nos elevamos a um novo lugar.  E todas essas forças de negatividade, não importa quão fortes, não importa quão poderosas sejam, não estão mais em nossas vidas.  Mas temos que saber que, depois de Rosh Hashaná, não podemos voltar ao modo de como nossas vidas eram antes.  Porque, então, o que acontece não é que isso anule completamente o trabalho, mas a separação que criamos entre nós e essas forças negativas do caos e da destruição será removida.  E se isso for removido, então todos os anjos negativos e forças do caos podem voltar para nossas vidas.

O segredo do significado do verso ya'arof kamatar likchi é que, com as conexões que fizermos em Rosh Hashaná, cortamos o poder dessas forças negativas que criamos por meio de nossas ações negativas ao longo do ano passado, e mesmo ao longo de anos passados e de outras encarnações.  Mas temos que entender que a única maneira de permanecermos protegidos dessas forças negativas é se estivermos realmente em um lugar diferente – e não apenas ontem, antes ou até mesmo hoje –, mas que nossa vida realmente mude.  Se voltarmos aos mesmos lugares de raiva, ciúme e Desejo de Receber Somente para Si Mesmo depois de Rosh Hashaná, então essas forças ainda estão naquele reino inferior e ainda podem causar danos.  A maneira de garantir que manteremos essas forças desligadas de nossas vidas é apenas se nossa vida realmente mudar.  Não precisa necessariamente ser uma mudança completa, mas precisa haver algum nível de raiva, ciúme ou Desejo de Receber Somente para Si Mesmo ao qual não mais voltaremos.

"A Luz que recebemos em Rosh Hashaná tem o poder de cortar todas aquelas partes de nós às quais não queremos voltar".

É importante saber que ao longo de nossas vidas, infelizmente, a maioria de nós criou anjos do caos, e cada carência que sentimos no ano passado veio dessas forças que criamos e ainda estão por aí.  Mas em Rosh Hashaná, temos a oportunidade de nos desconectar deles e, para garantir que permaneçam pelo menos dormentes (se não mortos) e incapazes de se intrometer em nossas vidas, temos que permanecer em um lugar diferente.  Se permanecermos em um lugar elevado, essas forças das klipot e da negatividade vão tentar nos encontrar, mas não podem, porque não estaremos mais lá.  Mas se voltarmos, elas ainda estarão lá, e teremos voltado para o caos que existia lá.  E elas têm a força para causar o mesmo – ou até mais – devastação do que antes.

É uma compreensão profunda do processo de transformação.  Como o Ari explica, cortamos as klipot, mas há também o aspecto dos dinim, julgamentos, de que realmente precisamos.  Nós transformamos os dinim em Rosh Hashaná, e continuamos a transformar esses julgamentos nos dias de Rosh Hashaná até  Yom Kipur, e especialmente no Shabat Shuva, quando devolvemos a energia perdida que encontrou seu caminho para o julgamento e a transformamos em Luz que podemos usar no próximo ano.
 


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